sexta-feira, 15 de maio de 2009

O sono


No comboio das 8h55, aquele que vem de São Pedro e liga Paço d'Arcos ao Cais do Sodré, a carruagem estava cheia, mas não demasiado cheia. Não demasiado cheia para ter descoberto o rapaz de 17 anos, não mais. Calças jeans meio coçadas, blusão à Top Gun com gola colada ao queixo, caracóis rebeldes não domados pelo gel mal espalhado e olhos de pestanas longas fechados. A descansarem. A terem o repouso que a noite não lhes deu. Corpo encostado à carruagem, balançado ao ritmo das curvas de uma linha junto ao mar.
Mais à frente, uma mulher de 36 anos. Corpo hirto. Pescoço enfeitado com um colar meio infantil, meio adulto. A rigidez da coluna não se desfez nem quando os olhos começaram a pousar num sono demasiado tenso para ser reconfortante.
Do lado da janela, uma boca aberta num ressonar quase mudo. Casaco transformado em almofada. Gravata fora do sítio. Cara inchada, roliça, marcada por um sono pesado que devia ter acontecido numa cama. Não ali. Da party directamente para o escritório? A loucura dos vinte?
Quase ao meu lado, o sono escondido. Óculos escuros enormes, cabelo bem arranjado, livro aberto numa página que nunca deu a volta em 13 minutos de viagem. O queixo cambaleante da mulher de 40 anos revelou o que os óculos escuros esconderam...
Muitos bocejos. Olheiras. Caras de sono. Olhos inchados. Rostos amarrotados.
Ninguém dorme à noite?

2 comentários:

Aquela que te faz rir disse...

Diz lá que não é bem melhor virmos em amena cavaqueira durante uma hora no pára arranca da A5?

mónica disse...

Melhor, é. Mais confortável, é. Mais giro, é. Mais divertido, é. Mas literariamente não seja tão rico. Embora mereça um post em breve.