sexta-feira, 30 de maio de 2008

Saudades

Quando eu era pequena, na minha família todos me conheciam como aquela que demorava horas a comer. Às vezes já estava a minha avó Adozinda a pôr o Mokambo e o Suchard Express na mesa e ainda andava eu às voltas com um arroz mais que ressequido ou um bife já sem sabor de tão frio que estava.
Quando a Michelle era pequena, na minha família todos a conheciam como desastrada e tão despistada que até nos próprios pés tropeçava!
Agora, quando alguém come muito devagar diz-se logo que "sai à Moninha" ou quando alguém leva tudo atrás por anda passa é logo apelidada de sucessora da Michelle.
Há pouco recebi um mail da minha prima Michelle apelidado "dois exemplos de furacão Katrina". Eram duas fotos deliciosas da minha "sobrinha" mais nova a fazer disparates dos grandes, ou melhor, a mostrar que é mesmo filha da Michelle!
Infelizmente é só através de troca de mails que vamos vendo os nossos sobrinhos e primos crescer e isto faz-me pensar na falta que os nossos avós fazem. Se eles
fossem vivos tenho a certeza que a família se reunia mais vezes, se eles fossem vivos tenho a certeza que não ficava embasbacada com a altura da Babá cada vez que a vejo, se eles fossem vivos já teria eu própria presenciado um exemplo do furacão Catarina, saberia mais da vida dos meus primos, dos meus tios, de quem vive cá e de quem vive longe. Se eles fossem vivos, se calhar eu estava agora sentada na cozinha da casa da minha avó a comer um arroz de bacalhau que eu nunca consegui fazer igual ou uma carne picada com batatas fritas que, de tão simples, é tão difícil de fazer. Tudo isto ao som da Rádio Renascença, não fosse o jogo da mala calhar lá em casa. O meu avô estaria no quarto, amuado com as últimas notícias sobre o Pinto da Costa ou a tratar das unhas, pormenor que nunca descurou.
Não há dia que passe em que não pense nos meus avós, no vazio que deixaram na nossa família. Por isso, acho tão normal quando a Michelle me fala em fricassé de frango ou soufflé de atum ou farófias e se lembra da avó... É que eles marcaram as nossas vidas de tal forma que nunca deixaremos de nos lembrar deles, do que vivemos junto deles, do que nos ensinaram e do que nos ofereceram... Sinto a vossa falta Dona Adozinda e Senhor Abílio!

Dores de crescimento




Sempre ouvi dizer que crescer dói. Doem os ossos que se estão a formar, dói a mente que está em aprendizagem, mas não me lembro de ouvir alguém dizer que dói o coração dos pais que vêem os filhos crescer.


O Tiago faz 3 anos daqui a menos de um mês. Não usa fraldas há já algum tempo e isso até é bastante bom e, acima de tudo, bastante higiénico, mas eu não estava preparada para ver o meu filho a agarrar na sua pilinha mínima e fazer xixi de pé. Foi um choque de que ainda não me refiz. E todos os dias de manhã quando ele grita "mamã, quero ir fazer xixi" eu não sei se ria ou chore ao vê-lo naquela pose de homem em frente à sanita. Também há já algum tempo que não usa chucha e vê-lo na cama com a fraldinha enrolada na mão de boca vazia foi uma dor inexplicável. Chorei, chorei mesmo na primeira noite em que as "més" (a primeira palavra que ele arranjou para a chucha!) ficaram todas escondidas na gaveta. E, estranhamente, ele nunca mais falou nelas. E naquele dia o Tiago começou a ser um homenzinho.


E este pequenino homem, que ainda me pede "tolo" (colo) tantas vezes, surpreende-me todos os dias com conversas cheias de palavras novas que eu não sei onde ele foi aprendê-las. Hoje de manhã, enquanto ele esperava que eu acordasse a sério, sentou-se na minha cama com as pernas à chinês e disse: "mamã, vamos conversar!". Vamos conversar?! Deve ser sério... E continuou. "Sabes que eu ontem caí? Rebolei (rebolei??? já sabe o que é rebolar?), mas a isabelinha segurou-me!" E eu ali, ainda meio ensonada, não sabia se ria às gargalhadas, se agradecia à isabelinha por não deixar o meu pequenino homem cair ou se me agarrava a ele cheia de dores de crescimento por ver o meu amorzinho tornar-se um verdadeiro homem...

quinta-feira, 22 de maio de 2008

27 de maio

Faltam 5 dias para os 7 anos. Os nossos. 5 dias para festejarmos aquele beijo que te roubei na escuridão daquela praia. Depois disso uma vida nova. Depois disso muitas histórias para contar. O primeiro fim-de-semana romântico em vila nova de milfontes (será que saimos do quarto?!); a intimidade no "vambora" no coliseu; a nossa casa e a angústia das obras, do bcp e daquele gerente que eu detesto; uma zanga, séria, feia, triste. Seria o fim? Não foi. Um vestido preto, uma conversa com uma fotografia e novos capítulos. As férias campistas que duraram apenas uma noite (já não tinhamos idade para aquilo...); o arroz de salsichas na varanda de um quarto loucamente modesto em aljezur; as loucuras que fizemos por amor ao futebol, tu principalmente, benfiquista, até festejaste comigo em plena avenida da república quando o porto de mourinho deu 3 a 0 ao mónaco; o camarão na moranga na passarela do álcool, o buggy azul, o candeeiro de 1,80m dentro de um avião; um vestido branco e uma gravata laranja num pôr de sol que estava ali só para nós; a vontade louca de ver a família crescer. E cresceu! Sou eu mesmo a mãe dos teus filhos! A mãe do teu/meu tiago, da tua/minha madalena. Faltam 5 dias para os 7 anos. Os nossos. E desde aí - do 27 de maio de 2001 - mais um sem número de aventuras. As viagens com o tiago (verdadeiros pais-galinha somos nós!), a aventura de sermos pais. Não foi fácil. Ninguém algum dia nos explicou que não era nada fácil. Um coração partido aos bocadinhos e, sim, eu pensei que era ali naquela avenida barulhenta que tu já não eras capaz de consertar a minha dor e que eu já não era capaz de ser a tua melhor amiga novamente. Ufff! Não foi mesmo fácil. Mas que teimosos que nós somos! E continuámos a escrever a nossa história. Com cumplicidade. Amor. Loucura. Taradice. Amizade.
Faltam 5 dias para os 7 anos. Os nossos. Os da nossa história de amor. Eu amo-te, António Pedro Santos.

Lugares comuns


Não acredito que haja uma pessoa no mundo que nunca tenha dito ou escrito frases que no fundo não dizem nada. São aqueles lugares comuns que enchem postais de amor, fitas de finalistas, mails entre amigos, etc, etc. São tao ridículos, tão vazios, mas tão divertidos também que merecem aqui um lugar de destaque:


1 - Dava a minha vida por ti

2 - Por ti despia a minha camisola de lã para te aquecer num dia de Inverno

3 - Nunca amei ninguém como te amo a ti

4 - Achei que nunca mais ia amar alguém até te ter conhecido

5 - O problema não é teu, é meu. Eu é que estou a passar uma fase má.


Adoro o n.º3. Adoro porque imensos famosos gostam de dizer isso nas revistas cor-de-rosa. A não sei quantas foi casada dezenas de anos com o não sei quantos, tiveram muitos filhos e foram muito felizes, mas não para sempre. Meia dúzia de meses depois do casamento chegar ao fim, a não sei quantas já está perdida de amor por um novo não sei quantos e não se inibe de dizer aos jornalistas que nunca amou ninguém como está a amar o não sei quantos de agora. E eu só penso: "o não sei quantos anterior, que viveu 17 anos com ela, que teve filhos dela, que riu e chorou nos braços dela deve estar a delirar com aquela capa de revista..." A frase já é má porque é um lugar comum, mas dita assim em público ganha contornos de malvadez...

Desarrumação

Há uns dias, uma das minhas tias preferidas veio lanchar cá a casa. Tenho um carinho por ela enorme e um respeito do tamanho do mundo. Gosto dela porque se ri como ninguém. Tem uma gargalhada sincera e mesmo quando a vida não lhe corre da melhor forma, ela ri-se, ri-se, ri-se. Antes de ir buscá-la ao comboio estava meio preocupada com o estado de desarrumação em que a minha casa estava. Brinquedos por todo o lado, fraldas, dodots, livros do ruca, frascos de aero-om, confusão por todo o lado. Fiquei um pouco tensa quando ela entrou cá em casa. Achar-me-ia uma tresloucada que nem uma casa sabe manter em ordem? Com o passar do tempo, e da conversa, fui relaxando... Relaxei, relaxei até ao momento do entusiasmo total: no meio de uma conversa sobre casas e sobre pessoas que enchem as casas de reliquias, diz a minha tia - "casas desarrumadas são sinónimo de amor.". E eu pensei: "sim! a minha casa desarrumada é sinónimo de que eu, o antónio, o tiago, a madalena e o guedes vivemos cá, passamos tempo cá, choramos aqui, brincamos aqui, amamo-nos aqui." Obrigada, tia, por uma lição (desarrumada) de vida!

quarta-feira, 21 de maio de 2008

As palavras que nunca te direi (não, não é um post romântico by nicholas sparks)

1- telélé: não há coisa mais parola do que esta. telélé é o quê? é infantilizar o telefone? é querer ter piada? é o quê?
2 - de bem com a vida: isto deixa-me com os cabelos todos em pé. é do mais parolo, saloio, sei lá mais o quê que alguém pode dizer. infelizmente vê-se muito em vários jornais e revistas. por mim não passa!
3 - pegar ao trabalho: pensando bem, até gosto desta expressão de tão bimba que ela é!
4 - tenho a haver: oh meu deus...
5 - blusa: se o antónio estivesse a ler isto "em directo" dizia já que lá estava eu com o meu snobismo, mas blusa não existe. a palavra é do mais piroso que há e, afinal, o que é uma blusa? é uma camisa? é uma t-shirt? é um polo? uma camisola? o que é?
6 - bejeca: se calhar é por eu não beber álcool, mas não consigo retirar o mínimo de beleza a esta palavra...
7 - peúgas: brancas, pretas, amarelas ou às bolinhas, peúgas não, por favor!
8 - burriés: ouvi no outro dia umas tias a dizer esta palavra no meio de uma loja de crianças. quem me conhece sabe que devo ter ficado de olhos postos nas dondocas tal era o meu espanto/ nojo.
9 - à rasca: trabalho num jornal popular, feito para pessoas populares, mas nem queria acreditar no dia em que recebi um texto de uma jornalista e vinha lá esta expressão. muito mau. popular não é sinónimo de baixo nível.
10 - ir ao banho: praia. sol. bronzeador. e vou ao banho. vou ao banho???? vou tomar banho, vou dar um mergulho, ...
11 - ir à bola: expressão saloia para quem vai assistir a um jogo de futebol
12 - tacho: o mais provável é que haja mesmo uma diferença entre tachos e panelas, mas tacho só me faz lembrar as músicas do quim barreiros.
13 - o comer: alguém consegue peceber como é que alguém transformou um verbo num substantivo? "ó jaquim, o comer tá na mesa!". bolas, até perco a fome...

domingo, 18 de maio de 2008

De zero a dez...


Dizem que com o passar dos anos de vida em comum o casal vai ganhando parecenças físicas um do outro. Assim de repente não acho que esteja a ficar com os olhos mais achinesados, com o cabelo mais liso ou até com barba (embora já esteja a precisar de fazer uma visita à Fany), mas acredito que ao fim de 7 anos o meu vocabulário mudou um pouco.

1 - Termino "n" vezes as frases com um vigoroso PRONTO!

2 - Se há algum problema, já não digo chiça, nem porra, mas sim BOLAS, com um ar meio trocista da situação ou da pessoa

3 - Digo muitas vezes a expressão "NÃO PRESTA?!", num tom divertido

4 - (esta é a minha preferida) para quantificar o sentimento ou outra coisa qualquer quantificável pergunto "DE ZERO A DEZ QUANTO É QUE...?" Acho que esta também é a expressão preferida do antónio. De zero a dez quanta fome tens, de zero a dez quanta vontade tens de ir dormir, de zero a dez isto, de zero a dez aquilo! Adoro isto!


De zero a dez gosto dez de ti!

O que é o jantar?




Não sei se foi por a discussão ter sido depois do jantar, mas ao antónio só saiam nomes gastronómicos: chá com scones, chá com bolachas,... Ovos fritos com chouriço, disse eu. Risota entre os dois. Tinha mesmo que ser este o nome do meu blog. A razão é simples.

Todos os dias a mesma pergunta: "O que é o jantar?". Todos os dias há duas respostas possíveis: "Tu é que és a esquisita, por isso escolhe tu" ou "Ovos fritos com chouriço"! Nunca na nossa vida comemos tal repasto e nem sei dizer se os tais ovos fritos são ovos estrelados, mexidos ou até uma omeleta, mas a expressão apanhei-a com o meu avô carvalho (cardoso, para o antónio) e passou a fazer parte das nossas discussões alimentares.

A pergunta "o que é o jantar?" é feita lá pelas 19h e o jantar acontece entre as 22 - quando os nossos lindos filhos nos presenteiam com uma noite de sossego - e as 24h - quando a pequena madalena dá o ar da sua graça. Às vezes são onze da noite e estamos sentados nas nossas cadeiras laranja à frente de uma mesa cheia de requinte: uma toalha bonita, o antónio com o seu chiquérrimo copo de vinho, comidinha da boa e a oprah ou a tyra na televisão. Engraçado é que mesmo quando ainda não éramos pais, os jantares também não eram a horas muito decentes... Afinal o estômago não sabe que horas são. Nem o que são ovos fritos com chouriço...