segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O meu rosto

O meu rosto está baço, um género de pálido amarelado apenas colorido pelas enormes olheiras que me rodeiam os olhos. Estou cansada. Tenho rugas. Rugas que contam histórias parvas que acontecem nas incontáveis horas que passo sentada nesta cadeira azul a olhar para este monitor acinzentado pousado em cima da secretária da mesma cor que, no fundo, quase não se vê tal forma está escondida sob os papéis coloridos de fotos de pessoas cujas quais eu sei tudo (ou quase tudo) sobre a vida delas, mas que não me interessam nada.
"Manda a 34." A frase que mais queria ouvir.
Agora vou descansar as rugas. As olheiras. Vou dar-me cor.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Dores de crescimento #2


O sonho de qualquer mãe é ver os filhos crescerem saudáveis, lindos, enérgicos, cheios de gracinhas e de conhecimentos novos todos os dias. E que bom é ver isso acontecer todos os dias. Que bom e doloroso! É sinal que, dia menos dia, já não querem beijinhos à entrada da escola, não querem o colo que cura todas as feridas, não querem adormecer de mão dada com o papá e a mamã, não querem jogar à bola no corredor lá de casa, não querem pintar o sofá, não querem fazer fitas para comer. Enfim, querem crescer.
Ontem, enquanto a chuva não dava tréguas e a Madalena dormia a sesta, passei uma hora apenas e só com o Tiago. O que eu descobri? Que ele, com 4 anos e cerca de 5 meses, já sabe escrever o seu próprio nome. Simplesmente emocionante e assustador! Está um homem e isso dói-me tanto!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Coisas de que eu não gosto nas pessoas

Não gosto de quem está 24 horas a rir. É impossível estar-se sempre feliz. Era bom, mas não é realizável, logo, soa a falso.
Não gosto de pessoas arrogantes (já sei que alguém vai dizer que eu também sou). Lá porque se é bom a fazer o que quer que seja (e às vezes nem se é), a humildade fica sempre bem.
Não gosto de pessoas sem valores. Preservar a amizade, por exemplo, é coisa rara, mas fica sempre tão bem.
Não gosto de pessoas que criticam, mas não fazem nada para mudar.
Não gosto de pessoas sem sentido de humor.
Não gosto de pessoas burras.
Não gosto de pessoas sem vontade de aprender, logo, sem vontade de evoluir.
Não gosto de pessoas que falam pelos cotovelos.
Não gosto de pessoas egocêntricas.

sábado, 7 de novembro de 2009

As mulheres e os homens da minha vida

O Tiago. O meu primeiro filho. A primeira prova daquele amor que dói, que faz rir, que faz ter medo, que faz perceber que há coisas que nunca acabam. Como o amor de uma mãe por um filho. A emoção de ouvir alguém, pela primeira vez na vida, olhar para mim e chamar "mamã"; a emoção da sua mãozinha pequenina, ingénua, malandra, teimosa, doce sobre a minha; a emoção de um dia ter ouvido um coração pequenino, mas cheio de força, a bater dentro da minha barriga. E o medo, o medo de falhar, o medo de não saber responder a todas as perguntas que ele tem e terá sempre para me fazer.

A Madalena. O desafio. Uma casa prestes a dar em louca e de repente os sorrisos começaram a chegar. Uma vitória. Agora uma pequena diabinha, cheia de charme, de tiques de menina, de gestos de sedução. Doce e rebelde. Ou rebelde e às vezes doce. A prova de que o amor de mãe tem espaço para muitos filhos e é do mesmo tamanho para todos. Afinal, não era preciso ter tido tanto medo de que a coisa podia não ser bem assim.

A minha mãe. O cordão umbilical que nunca foi cortado. A cumplicidade. As horas passadas a falar de botões, de penteados, de amor, de desilusão, de filhos, de receitas, de viagens, de medos, de conquistas, de perdas, de sonhos, de calorias, de medicamentos, de champôs, de maridos, de livros, de músicas, de tudo. A mão que está sempre lá. Acima de tudo, o colo que uma mulher de trinta também precisa.

O meu pai. A relação mais difícil e mais intensa. O homem mais frio e o coração mais doce que algum dia conheci. Os olhos mais gélidos e que mais lágrimas vi deitar. Um homem de poucas, raras palavras, mas que falou (quase) sempre que eu precisava de ouvir um mimo ou um raspanete. Um homem que se preocupa, à sua maneira, e que me encheu de barras de sésamo quando engravidei da primeira vez. Doido por mim... à sua maneira!

O António. O homem que me ama. Que atura os meus dias não - que até têm sido muitos - e que depois é capaz de me surpreender com algo que me deixa de lágrimas nos olhos e sorriso nos lábios. O homem que me incentiva a seguir o meu sonho, que me dá força, que se zanga, se ri, que me faz zangar, stressar (actividade que ele detesta), chorar, mas que, acima de tudo, e com todos os altos, baixos, curvas, marchas atrás e pontos de interrogação me faz ter a certeza que é o tal. Para o bem e para o mal.

O Manel. Ah, o Manel. É o meu segundo pai. A pessoa com quem já tive as discussões mais violentas, mas que dá os melhores e mais apertados abraços do mundo. O eterno professor em busca da perfeição tão difícil de existir. O homem capaz de dizer a frase mais dura que rasga qualquer coração de estufa, para logo a seguir consertá-lo com mimos e mais palavras, desta vez mais saborosas. O homem capaz de dar a volta ao mundo só para concretizar um sonho que raramente é o seu.

A avó Angelina. Porque dá conselhos tão sábias como "está sempre arranjada porque o teu marido está sempre com mulheres bonitas à volta!" Uma sábia com voz alta e gargalhada muito sonora. Linda, sempre.

A avó Adozinda. Neste momento, a saudade. Outrora, as histórias, a calma, os sorrisos, as palavras doces e pausadas. Que saudades, vó!

O avô Carvalho. Neste momento, também a saudade. A saudade das piadas, do sentido de humor, da alegria, do amor, da ajuda, dos olhos já tão cansados por trás daqueles óculos. A brincadeira, tanta, tanta, tanta, tanta brincadeira.

O avô Abílio. As saudades, também. Embora sisudo, quase sempre zangado com a vida, raros sorrisos, mas com uma mão doce e surpreendentemente meiga. Fanático pelo FC Porto (ainda bem que não está a ver esta época tão fraquinha), geria o seu humor consoante os resultados (felizmente muito bons nos últimos tempos!).

Claro que há mais mulheres e homens da minha vida. Há as fantásticas tias, sempre boas ouvintes, sempre prontas para uma boa gargalhada ou para uma sessão de choro; a Michelle, a prima mais irmã deste mundo; o Nuno, o primo capaz de encher uma casa de sorrisos só com uma simples mensagem; a Carla, a prima longíqua sempre com pensamentos positivos; a Ana, a amiga com um problema de telefones, mas a mais genuína; a Marisa, a amiga com o humor mais requintado deste mundo; a Célia, a amiga que me dá paz.

Escrevo isto hoje porque hoje acordei feliz e há muito tempo que não acordava assim. E escrevo isto para reler sempre que me armar em parva e achar que a vida não me está a correr lá grande coisa. Escrevo para me lembrar que tenho muitas pessoas que me fazem feliz.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Voltar à infância é...


... ter sempre bolachas maria no armário e comê-las aos pares untadas com manteiga.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

domingo, 9 de agosto de 2009

Os amigos

Os amigos estão lá quando o nosso coração se parte aos bocadinhos. Os amigos dão abraços apertados, dizem piadas só para nos verem rir, afagam-nos o cabelo para nos acalmarem. Há dias em que tudo corre mal. O trabalho corre mal, o carro avaria, as discussões são enormes, mas há amigos que estão lá. Que penduram prateleiras, que mudam fraldas, que jogam à bola. Os amigos são, seguramente, a outra família que escolhemos. Às vezes, até, os amigos são a nossa família. Mais dedicados, mais atentos, mais afectuosos, acima de tudo, mais amigos.
Obrigada a todos os amigos que têm ajudado a tornar esta tempestade mais suave. Obrigada J., obrigada F., obrigada PC. E obrigada, pai herói, por seres tão heroicamente fantástico quando, imagino, só te apetece fugir.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Subway Fashion

Percurso Cais do Sodré - Chiado, 9h10

Ela usa um vestido jeans claro com um folhinho um pouco abaixo dos joelhos. Tem quase um ar cândido, não fosse o decote ousado que deixa ver um soutien reles, preto, já muito usado, mas pouco lavado. O cabelo que é castanho, mas que ela gostava que fosse loiro, não tem uma cor definida. Ou melhor, tem. A raiz, que chega quase até ao queixo e transborda óleo, é castanha. O resto do cabelo é amarelo. Não loiro. Amarelo. Mesmo. Os pés têm as unhas cortadas e mal pintadas de um branco metalizado. Usa umas havaianas que também foram brancas há muito, muito tempo. No braço direito, mesmo junto ao ombro a tatuagem. Podia ser uma rosa vermelha rodeada por uma serpente ou um golfinho a saltar para a água. Podia ser todas estas vulgaridades, mas era muito mais do que isso. Era o Daniel. A cara do rapaz que estava sentado ao lado dela no banco do metro estava simplesmente fotocopiada no braço direito daquela rapariga de ar quase cândido.
Isto foi em fins de Julho. Mas não me saiu da cabeça o ar de desdém, de desamor com que o Daniel olhava de soslaio para aquela miúda. Nunca mais os vi no metro. Será que o namoro continua? E a tatuagem do Daniel ainda estará naquele braço suado, encardido?

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Para ti, meu crescido

Há quatro anos estava prestes a ser mãe pela primeira vez. A minha vida ainda não tinha dado uma cambalhota, mas estava quase, quase... Há quatro anos ainda não percebia o que era o amor incondicional de que a minha mãe tanto me falava. Há quatro anos não sabia o que era viver numa preocupação constante. Há quatro anos não sabia o que era esquecer um dia mau só porque alguém salta para os meus braços ou me oferece o sorriso mais doce do mundo. Há quatro anos, Tiago, ainda não te conhecia. Já te sentia dentro de mim, já tinhas um pé a empurrar-me a costela, já tinhas soluços dentro da minha barriga, já existias na minha vida, mas ainda não te conhecia.
Conheci-te a 28 de Junho de 2005. Eras pequenino. Muito mesmo. Tinhas um babygrow do Super-Homem (desculpa, não havia do Homem-Aranha!) e um gorro azul às risquinhas. Hoje, quase quatro anos depois, não me emociono a pensar nesse primeiro encontro, emociono-me sim a ver como estás crescido, como já queres ser independente, como falas tão correctamente, como mimas a Madalena, como me abraças, me beijas com tanto carinho...
Para ti, meu crescido, aqui vai a tua música preferida. (O André é um parolo, sim é, mas o puto gosta e ver um filho feliz vale um coração cheio!)

Adivinha O Quanto Gosto De Ti

"Já pensei dar-te uma flor, com um bilhete, mas nem sei o que escrever.
Sinto as pernas a tremer, quando sorris p'ra mim, quando deixo de te ver.
Vem jogar comigo um jogo, eu por ti e tu por mim.
Fecha os olhos e adivinha, quanto é que eu gosto de ti.

Gosto de ti, desde aqui até à lua.
Gosto de ti, desde a Lua até aqui.
Gosto de ti, simplesmente porque gosto.
E é tão bom viver assim.

Ando a ver se me decido, como te vou dizer, como hei-de te contar.
Até já fiz um avião, com um papel azul, mas voou da minha mão.
Vem jogar comigo um jogo, eu por ti e tu por mim.
Fecha os olhos e adivinha, quanto é que eu gosto de ti.

Gosto de ti, desde aqui até à lua.
Gosto de ti, desde a Lua até aqui.
Gosto de ti, simplesmente porque gosto.
E é tão bom viver assim.

Quantas vezes eu parei à tua porta.
Quantas vezes nem olhaste para mim.
Quantas vezes eu pedi que adivinhasses.
Quanto é que eu gosto de ti.


Gosto de ti, desde aqui até à lua.
Gosto de ti, desde a Lua até aqui.
Gosto de ti, simplesmente porque gosto.
E é tão bom viver assim."

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Hoje

Hoje faz seis anos que trabalho neste jornal. Entrei aqui com 25 anos. Solteira, ou melhor, amantizada. Depois engravidei. No dia em que soube que estava grávida recebi um convite para ir para uma revista. Não fui. No dia seguinte recebi outro convite. Também não fui. Depois casei-me (ainda grávida). Depois nasceu o Tiago. Depois recebi outro convite para sair do jornal. Não saí. Voltei ao trabalho. Mudei de função e de lugar trilhentas vezes. Entretanto, voltei a engravidar. desta vez não fui parva e não fiquei a trabalhar quase até o bebé nascer. Fiquei em casa dois meses a engordar como uma lontra. Depois nasceu a Madalena. Deixei de dormir. Voltei ao trabalho. Mudei de função e de lugar outra vez.
Faz hoje seis anos que entrei nesta redacção para ser subeditora das Belas&Perigosas. Já ri, chorei, gritei (pouco ou quase nada porque não é o meu estilo) e fiz sei lá mais o quê. Agora, estou só a decidir se a média destes seis anos é positiva ou negativa...

sábado, 13 de junho de 2009

31º

Estão 31º graus na rua, o que significa que está um calor insuportável. Logo, como é possível eu ter visto um rapaz de t-shirt, camisa e kispo a atravessar a Avenida da Liberdade? Chegou agora da Sibéria e ainda não teve tempo de mudar de roupa? Nem imagino o cheiro daqueles sovaquinhos...

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O Sr. Queiroz

Sou só eu ou há para aí mais alguém que acha que o sr. Carlos Queiroz nunca deveria ter saído do banco ao lado do sr. da pastilha elástica?
Não digo isto por Portugal não jogar nada desde que ele para lá foi, digo isto desde o momento em que soube ele ia sair do banco ao lado do sr. da pastilha elástica. É que assim de repente não me lembro de nenhum grande feito do homem como treinador principal de homens a sério, não putos a começarem a jogar à bola...
Não gosto dele. Nunca gostei. Não como pessoa que, coitadinho, deve ter as suas qualidades, mas como treinador que, coitadinho, não lhe revejo grandes qualidades.
Eu sei que não sou propriamente uma perita em futebol, em tácticas, eu sei que ainda não percebo muito bem o que é um 4x3x3 ou outras coisas esquisitas destas. Mas sei o que é uma equipa jogar muito mal futebol. E sei que depois de termos empatado com a Estónia, não me interessa se a jogar com A ou com B, o sr. Queiroz tem a coragem de dizer que faz um balanço positivo da temporada, não é uma boa coisa de se dizer. Agora "só" precisamos de vencer a Dinamarca e a Hungria para podermos ver a selecção com os pezinhos no Mundial. Mas para quem fez um jogo miserável com a Albânia, não me parece que o passaporte esteja garantido...
E mesmo que cheguemos lá, e mesmo que ganhemos a taça (ahahahahahahaahahah), eu vou continuar a não gostar do sr. Queiroz. E também não gosto do bimbo do Ronaldo. E também não percebo como se põe o Pepe a jogar quando ele está parado na sua equipa. Mas isso sou eu que não percebo nada de futebol.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Conversas

Ontem passei umas horas bastante agradáveis na sala de espera do São Francisco Xavier.
Na sala de espera n.º1 ouvi uma senhora a explicar a outra o decorrer das buscas do voo AF447. A melhor parte foi quando a outra lhe perguntou "mas afinal o que aconteceu para o avião cair" e a senhora mais informada responde com o ar mais sério e certo deste planeta "só deus nosso senhor sabe o que aconteceu, só deus sabe...".
Depois fui chamada. Quando voltei a conversa estava muito mais interessante. A senhora mais informada lia um jornal onde dizia que um magnata qualquer era filho de um carpinteiro e de uma doméstica. A sobrinha não queria acreditar e quis ler com os seus próprios olhos. Leu e exclamou: "Então quer dizer que lá por eu ser filha de uma mulher a dias e de um desempregado ainda posso ser alguém." "Podes", diz a mais informada, "tens é que estudar muito". Ah pois é!
Voltei a ser chamada e quando voltei decidi mudar de sala de espera. Má escolha. Muito má escolha mesmo. A sala era muito pequena e as doenças pareciam que se propagavam só porque sim. Três minutos depois de eu me ter sentado lá num cantinho, chega a dona maria odete. Uma senhora pesada e com muita vontade de falar. Eu não tinha vontade nenhuma de falar. Nem vontade nenhuma de ouvir fosse o que fosse, a não ser o meu nome a ser berrado num altifalante esganiçado lá da sala.
Bem, a dona maria odete sentou-se e fez logo conversa com a senhora do lado. A senhora do lado não estava com ar de quem quisesse conversar. Mas ouviu-a. Ouviu ela e eu também. A dona maria odete tem diabetes. Há uns tempos pôs uma banda gástrica e emagreceu 50kg (mas ela ainda é enorme!!!!), mas está desolada porque há cinco meses que não come carne, peixe e fruta. Só sopa passada. Ontem foi ao hospital porque está com a pele que parece que apanhou um escaldão, mas não apanhou, até porque não vai à praia há anos. Talvez tantos como os que esteve fechada em casa - 15 anos! - por não conseguir andar por culpa do excesso de peso. Agora, "se deus quiser", faz 67 anos a 22 de Agosto.
Eu fiquei sempre de olhos postos numa revista que não me apetecia ler, só para os meus olhos não me cruzarem com os da dona maria odete. Eu sei que não é muito simpático dizer isto, mas eu queria paz e sossego e sair dali o mais depressa possível. Não queria saber de doenças de ninguém, nem de incentivos do estilo "ah quando o meu tio chegou a este hospital com uma dor de cabeça só saiu daqui para o cemitério". Não é bom ouvir isso na sala de espera de um hospital.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

O sono


No comboio das 8h55, aquele que vem de São Pedro e liga Paço d'Arcos ao Cais do Sodré, a carruagem estava cheia, mas não demasiado cheia. Não demasiado cheia para ter descoberto o rapaz de 17 anos, não mais. Calças jeans meio coçadas, blusão à Top Gun com gola colada ao queixo, caracóis rebeldes não domados pelo gel mal espalhado e olhos de pestanas longas fechados. A descansarem. A terem o repouso que a noite não lhes deu. Corpo encostado à carruagem, balançado ao ritmo das curvas de uma linha junto ao mar.
Mais à frente, uma mulher de 36 anos. Corpo hirto. Pescoço enfeitado com um colar meio infantil, meio adulto. A rigidez da coluna não se desfez nem quando os olhos começaram a pousar num sono demasiado tenso para ser reconfortante.
Do lado da janela, uma boca aberta num ressonar quase mudo. Casaco transformado em almofada. Gravata fora do sítio. Cara inchada, roliça, marcada por um sono pesado que devia ter acontecido numa cama. Não ali. Da party directamente para o escritório? A loucura dos vinte?
Quase ao meu lado, o sono escondido. Óculos escuros enormes, cabelo bem arranjado, livro aberto numa página que nunca deu a volta em 13 minutos de viagem. O queixo cambaleante da mulher de 40 anos revelou o que os óculos escuros esconderam...
Muitos bocejos. Olheiras. Caras de sono. Olhos inchados. Rostos amarrotados.
Ninguém dorme à noite?

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Escrever

“Escreve, se puderes, coisas que sejam tão improváveis como um sonho, tão absurdas como a lua-de-mel de um gafanhoto e tão verdadeiras como o coração simples de uma criança”
Ernest Hemingway

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Dez (ou mais) coisas de que eu não gosto

(Copiando a ideia do blog amigo "Macaquinhos no Sótão")

1 - Pessoas que acordam com mau humor
2 - Cheiro a cão
3 - Favas
4 - Peixe cozido
5 - Couves de bruxelas
6 - Pessoas com um ar ocupado mas que no fundo, no fundo não fazem rigorosamente nada
7 - Borboletas
8 - Osgas
9 - Homens de rabo gordo
10 - Hálito a café com um misto de tabaco
11 - Atum
12 - Couve flor
13 - Fatias de fiambre grossas

(em actualização)

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Nós

A partir de amanhã e até domingo vamos ser só nós. Nós e o sofá. Nós e a cama. Nós e uma refeição sossegada. Nós e o pouf. Nós e os jornais. Nós e os livros. Nós e as séries de crimes e de hospitais. Nós e uma esplanada. Nós e a preguiça. Nós e as conversas com princípio, meio e fim. É que sem nós, não havia eles, e para eles estarem bem, nós também precisamos de um bocadinho de tempo para... nós!

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Procura-se!


Procura-se anónimo que vem ao meu blogue só para me chatear.
Pistas:
- sexo masculino
- tem a mania que é giro, mas coitadinho...
- trabalha no mesmo local que eu
- tem um blogue
- acha que escreve maravilhosamente bem, mas não vou fazer comentários...
- é cobarde
Recompensa:
- nenhuma. Só para divertimento meu!

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Macaquinhos no sótão

Ele tem um ar normal. Lavado. Muda de roupa todos os dias. O cabelo está limpo. O problema são as mãos. Longas. De dedos compridos sempre enfiados no nariz quase a coçar o cérebro. Depois ajeita o que de lá dentro tira. Faz bolinhas. E finaliza o ritual: mastiga-as.
E está sentado praticamente à minha frente. Todos os dias. Mais de oito horas.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Alguma coisa se passa...

... quando choro a (re)ver o vídeo da Susan Boyle e desfaço-me em lágrimas a assistir a um episódio da Ally McBeal... Não era suposto rir com as duas coisas?!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Perneta

Acordar às sete da manhã não é o meu sonho de vida, mas hoje o Tiago achou que toda a casa devia ver o nascer do sol. Às quatro da manhã a Madalena já tinha emigrado para a nossa cama, logo, eu já estava a dormir há umas três horas com um pé em cima do pescoço e outro a esborrachar-me os olhos. Nada de muito especial. Às sete da manhã o Tiago também foi para a nossa cama. Não foi porque tinha sono e queria dormir aconchegado aos papás, foi porque estava numa irritação enorme porque o Porranja (mais conhecido por Power Ranger) tinha perdido a perna no meio do sono. E agora? Iria o mundo acabar? Não! Iria o nosso sono acabar. Raios partam o perneta do Porranja!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Arghhhhhhhhhhhh


Farta

Cansada

Saturada

Esgotada

Ansiosa

Chateada

Ensonada

Curiosa

Entediada

Maldisposta

Arreliada

Zangada

Mal-humorada
Não me lembro de mais nada, mas deve haver, deve...

terça-feira, 21 de abril de 2009

Aquele pequeno detalhe

Hoje, em apenas um minuto, vi dois homens giros na estação de metro Baixa-Chiado. Um tinha um ar mais grunge, outro mais clássico. Falo nisto porque é muito raro ver homens giros neste nosso pequenino país. Mas também falo nisto porque achei-os giros até olhar para os pés dos dois: o grunge tinha uns ténis padrão estilo vaca, o clássico uns mocassins com berloque. Aquele pequeno detalhe que estraga tudo...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Hoje lembrei-me disto...

Nobody knows it but you've got a secret smile
And you use it only for me
Nobody knows it but you've got a secret smile
And you use it only for me
So use it and prove it
Remove this whirling sadness
I'm losing, I'm bluesing
But you can save me from madness
Nobody knows it but you've got a secret smile
And you use it only for me
Nobody knows it but you've got a secret smile
And you use it only for me
So save me, I'm waiting
I'm needing, hear me pleading
And soothe me, improve me
I'm grieving, I'm barely believing now, now
When you are flying around and around the world
And I'm lying alonely
I know there's something sacred and free reserved
And received by me only

Obrigada pelas flores... e pelo amor!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

A emoção do futebol

Ontem fui ao futebol. Não comprei bilhete. Não vi o relvado a escassos metros de mim. Não levei com encontrões à entrada e à saída do estádio, simplesmente porque não estive no Dragão. Mas é como se tivesse estado. A Casa do FCP, em Lisboa, tinha uma boa quantia de adeptos a gritar pelos tripeiros e o ambiente era o de um verdadeiro estádio. Palmas na altura de um bom lance (não foram muitos ontem), assobios na altura dos erros, gritos, histeria, mãos na cabeça, pulos, cânticos... Eu sei que jogo era importante, por isso fui com o meu benfiquista preferido (ideia dele, imaginem lá!!) para esta Casa. Mas ver um jogo pela televisão, não é a mesma coisa do que ir ao estádio, por isso ainda estou para perceber as palmas, os insultos e, acima de tudo, os cânticos! Também ainda estou para perceber as lágrimas que vi nos olhos de alguns que para ali saltvam, camisola do FCP vestida, cachecol atado ao pulso... Chorar? É só futebol, carissímos!

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Quem tem vizinhos destes, tem tudo... (desculpa lá, PC!)

Ontem jantámos estes belos rissóis de leitão (ou de pêlo como são conhecidos na minha rua!)
Recebi-os um destes dias à porta da minha casa, já passava das onze da noite. Vinham 12. Todos juntinhos e congelados num saco de plástico. Deitei-os no congelador à espera de um apetite gigantesco. O momento aconteceu ontem à noite. Estavamos os dois com fome, bastante mesmo, mas sem vontade nenhuma de cozinhar. Lembrei-me dos rissóis (e do Filipe à porta da minha casa de chinelo no pé, mas sem a meia branca!). Fritámos em óleo bem quente como mandam as regras da culinária e quando já estavam bem douradinhos esperámos que arrefecessem e demos uma trinca. Primeiro eu. Depois o António. Os nossos olhos ganharam um brilho novo. Estes rissóis são mesmo muito, muito, muito bons! O antónio colocou-os em 1.º lugar no ranking de melhores salgadinhos, eu, peço desculpa, ponho-os em 2.º, só destronados pelos deliciosos rissóis de camarão da minha avó.
Com vizinhos destes vamos engordar, engordar, engordar...
Obrigada, Joana. Obrigada, Filipe. Desculpa lá, PC!

Combinado?


Vamos fazer um trato: a Madalena andava a dormir bem até eu ter dito a toda a gente que ela andava a dormir bem. Logo, não vamos falar do assunto, ok? Vamos fingir que ela continua a dormir muito mal, para ver se ela volta a dormir bem, boa?

terça-feira, 14 de abril de 2009

Ufff... - parte 2

Afinal não falta um bocadinho assim tão pequenino. Falta um bocadinho assim mesmo grande. Enorme. Gigante. Mania que as pessoas têm de complicar as coisas...

O Zafon é que sabe...

"Falar é de ignorantes; calar é de cobardes; ouvir é de sábios."
in "Sombra do Vento"

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Eu amo o Dr. Hans Groenendijk!


Gosto tanto, tanto, tanto, mas tanto deste homem que só me apetece dar-lhe beijinhos! Viva o Dr. Hans!

quinta-feira, 9 de abril de 2009

11 de Março de 2009

Escrevo este post só para me lembrar que foi nesta data que dormi uma noite seguida pela última vez. Seguida assim ao estilo de dez horas sem interrupções. Já não sei o que é deitar a cabeça na almofada e mantê-la lá uma hora seguida que seja... Acho que vou morrer de cansaço. Adormecer num banco de um comboio e fazer 33 viagens de ida e volta entre Paço d'Arcos e Cais do Sodré. Só quero dormir... Muito. Tudo de seguida.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Pêlos

Não gosto de homens peludos. Logo, não gosto do Tony Ramos. Mas sou da opinião de que os homens devem ter pêlos. Nos sítios certos e em quantidades moderadas. Logo, o peito dos homens deve ter uma pequena penugem e não uma autêntica floresta. A moda agora é os homens não terem pêlos. Rapam os pêlos com a lâmina. Depilam-se. Recorrem a técnicas inovadoras de matança geral e eterna desses malditos pêlos. Mas já que fazem isso, ou seja, já que querem viver sem pêlos, sejam cuidadosos. A imagem que tive hoje de um certo senhor de camisa aberta o suficiente para se ver parte do peito foi má. Muito má. Sem ser preciso ele falar, fiquei a perceber que rapa os pêlos. Como? Os ditos pêlos já estavam em elevada fase de crescimento. Não é bonito.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Ufff...

Só falta um bocadinho... mesmo, mesmo pequenino... Depois tudo muda!

É hoje?


Aquela impressão na barriga. O nervoso miudinho. A ansiedade. É hoje?

terça-feira, 31 de março de 2009

Para ti, PC (não, não é o Pinto da Costa!)

Para ti, querido Pedro Caetano, aqui vai um miminho para acabares de vez com as cenas de ciúmes!
Gosto de ti, apesar de te ver tão pouco. Gosto de ti, apesar de viveres longe (mas não é nada do género longe da vista, longe do coração!). Gosto de ti porque o António é louco por ti. Gosto de ti porque fazes o Tiago rir. Gosto de ti pela tua inteligência, o teu humor, pelas (poucas) noites cheias de boa conversa que já passámos juntos. Gosto mesmo muito de ti e só não gosto mais porque iria parecer estranho gostar tanto do melhor amigo do marido!
Está bom assim ou tenho que fazer mais provas do meu carinho?!
p.s. Quando é o fondue?

domingo, 29 de março de 2009

Esclarecimento

Trabalho desde os meus 20 anos no mundo cor-de-rosa, o que significa que já vai mais de uma década a tentar saber tudo da vida dos famosos. É certo que gostava de mudar de vida, mas também é certo que gosto do que faço (não adoro, mas gosto...).
Contaram-me que há uns dias, no programa "Aqui e Agora", do Rodrigo Guedes de Carvalho, houve um debate sobre o mundo cor-de-rosa. Não vi e tenho muito pena. Não por querer ouvir mais uma data de lugares comuns sobre esse acizentado mundo cor-de-rosa português, mas por a sra. dona inês castel branco se ter referido a mim, não mencionando o meu nome, é verdade, e ter enchido a boca de mentiras.
Há uns tempos, estava eu a ver umas fotos de um evento onde a sra. dona inês castel branco estava presente. pareceu-me que estava um pouco mais gordinha. estaria grávida? peguei no telefone e fiz-lhe essa pergunta. e é aqui que entra o esclarecimento. não peguei no telefone e perguntei descaradamente se ela estava grávida. fiz um pouco de conversa. ela riu-se. eu ri-me. até trocámos umas piadas. ela disse que ia já a correr fazer dieta. eu disse que não fizesse isso porque já é tão magrinha que ainda ficava com anorexia e depois escrevia para aqui a culpar-me. trocámos gargalhadas. desliguei o telefone sem sentir que tivesse ficado algum tipo de ambiente pesado entre nós (jornal 24horas) e ela. Mas afinal ficou. Ficou porque, dias depois, numa rubrica sobre a qual eu não tenho nada a dizer nem qualquer tipo de poder sobre o que é ali escrito, escarrapachou uma foto da sra. dona inês castel branco dizendo que ela está mais gordinha. A sra não gostou e achou que fui eu que escarrapachei aquela foto naquelas páginas que todas as semanas criticam ou elogiam os looks das nossas famosas. Não fui, ouviu sra. dona inês castel branco? Gostava que a sra dona inês castel branco também tivesse a coragem de assumir que quando lhe telefonei não fui mal educada consigo, que tivesse a coragem de assumir que até nos divertimos naquele telefonema, que tivesse a coragem de admitir que não a chamei gorda.
Se a sra dona inês castel branco quer que o seu trabalho seja respeitado siga uma regra simples: respeite o trabalho dos outros. E ponha a mão na consciência. Talvez durma mais descansada.

A senhora

Na última semana, em todas as viagens de comboio que fiz, fossem que horas fossem, cruzei-me sempre naquela carruagem cinzenta com uma senhora. Deve ter cinquenta e muitos, sessenta. Tem uns quilinhos a mais. Pele mulata. Cabelo preto, desfrisado. Franja simetricamente cortada. É vaidosa. Muito mesmo. Já percebi que gosta de se cuidar. De parecer bem, seja para se agradar a si própria, seja para ouvir um piropo na rua. Por isso, se sai de casa a correr e não teve tempo para os retoques finais, aproveita os 18 minutos de viagem entre Paço d'Arcos e Cais do Sodré para trocar impressões com o seu espelho de carteira. Primeiro chega o pente para ajeitar a franja. Depois o pó de arroz para uniformizar o tom da cara, a seguir a sombra nos olhos, o batôn nos lábios carnudos... O ritual termina com o creme para suavizar as mãos. Quem disse que não é bom andar de transportes públicos?!

sexta-feira, 20 de março de 2009

Vizinhos

Já vivi em algumas casas e não me lembro de ter ficado realmente amiga de algum vizinho.
Lembro-me do bêbedo do 1.º dto que deixava o meu pai louco. lembro-me do vizinho que vivia sozinho e que passou o seu último Natal junto da minha família por "culpa" do enorme coração do meu pai. Foi bonito. Triste foi ele ter morrido pouco tempo depois, sozinho como sempre, na sua casa. Lembro-me do Hélder do 5.º dto que bebia leite em todas as refeições, e da sua irmã Dália que tinha um fraquinho pelo meu primo João Paulo. Lembro-me da Lídia do 4.º andar que era muito à frente para o nosso tempo e que causou o maior sururu quando se casou: em vez de um celestial bouquet de flores foi com um gigantesco crucifixo nas mãos. Lembro-me do Xuxu, do prédio em frente, da Elsa e das suas irmãs, do Vasco que andou comigo na escola, do Fanã e os seus irmãos rebeldes. Agora que páro para pensar lembro-me da vizinha do 1.º esq que quando decidiu pôr o marido fora de casa atirou com os pratos e as roupas pela janela. Mais recentemente lembro-me da enorme simpatia do sr. Manuel e da sua mulher.
Agora dos meus vizinhos actuais tenho a Elsa que é impossível não ver todos os dias; o sr. da frente que tranca a porta 53 vezes antes de sair de casa acompanhando o rodar da chave com sonoras contagens até 3 ou palavras mais impróprias para escrever neste espaço; a paula, o marido e o filho martim, simpáticos (ela e o miúdo), mas a precisarem de sacudir o pó do corpo por passarem tanto tempo fechados em casa; e agora tenho a Joana e o Filipe. Começou tudo com um bom-dia, depois as conversas sobre os putos, depois uma ou outra boca, uma troca de sorrisos sinceros e amanhã vão lá jantar outra vez! Eu, que sou a snob do clã Menezes Santos e não dou confiança a ninguém, estou rendida a este cultissimo e divertidissimo casal! O primeiro jantar acabou à 5h da manhã e só porque eu e o antónio tinhamos que nos levantar cedo por causa dos miúdos no dia seguinte. Agora, estou para ver o efeito que um caril bem picante vai fazer às nossas cabeças... levem os sacos cama, meninos!